sábado, 7 de maio de 2011

Ação Muito Importante

Zoonoses: o lugar certo para quem procura adotar um animalzinho

Roberta Machado

Publicação: 07/05/2011 08:00 Atualização: 07/05/2011 08:03

FOTO: CB

















Júnior Fagner de Araújo já adotou seis gatos, mas continua indo ao local para ajudar a encaminhar outros.


Ao menor sinal de barulho no corredor, começa a gritaria. Os latidos são a única forma que esses animais encontram de disputar, desesperados, a atenção de um possível dono. Quem visita o canil da Zoonoses é assediado por dezenas de cães de todos os tamanhos e idades, todos prontos para ganhar um novo lar. Em outro corredor, uma quantidade igual de gatos mia loucamente, subindo nas grades e brigando por espaço para ganhar carinho. Todos esses animais são órfãos que, por obra do destino ou por descuido dos antigos donos, precisam esperar pacientemente por alguém que os leve para casa.

Alguns espécimes que chegam ao Núcleo de Animais Domésticos são capturados na rua, mas a maioria deles é trazida pelos próprios donos. O espaço recebe diariamente ninhadas inteiras que não encontraram espaço no lar em que nasceram ou bichos que, por algum motivo, não podem mais viver com os companheiros que os adotaram.

Depois que chegam ao centro, os animais são separados e ficam em observação durante 10 dias. Nesse período, os veterinários procuram sinais de doenças e fazem exames de sangue para se certificar que os novos habitantes são aptos para adoção.

Os cães diagnosticados com raiva ou leishmaniose são sacrificados; os saudáveis, colocados à disposição do público. Os responsáveis pela Zoonoses calculam que, dos cerca de 20 animais novos que chegam diariamente, apenas seis são adotados. O restante geralmente é reprovado no processo de triagem.


Risco de doenças

O Centro de Zoonoses foi projetado como local de observação de doenças que ameaçam a saúde pública. Mas a quantidade de animais saudáveis entregue no local era tamanha que há mais de 10 anos o Núcleo de Animais Domésticos passou a oferecer também o serviço de canil.

Os veterinários garantem que os bichos são bem cuidados, mas alertam que o espaço não pode ser comparado a um lar. “Acabamos dando essa atenção por respeito à vida animal, mas não é um ambiente desenvolvido para ser abrigo. É um local altamente insalubre, e o bicho está sujeito a contrair doenças”, adverte o médico- veterinário Laurício Monteiro Cruz.

Os órfãos de quatro patas recebem alimentação, água e vacina antirrábica e vivem em jaulas limpas diariamente, acompanhados somente de semelhantes que não lhe ofereçam ameaça. Mas todo o cuidado nem sempre é o suficiente. Segundo Laurício, cães e gatos podem contrair doenças de outros bichos, ou mesmo a depressão animal, o que diminui consideravelmente o tempo e a qualidade de vida dos que aguardam a adoção. Os saudáveis não são sacrificados, mas o tempo de espera por um novo dono por vezes é tão grande que alguns não resistem e morrem.


Voluntários

O canil não recebe doações, mas depende inteiramente da população para encontrar um novo lar para os animais abandonados. Entre os “padrinhos” que resgatam esses órfãos, está Júnior Fagner de Araújo, 23 anos. Desde que adotou o primeiro gato, há um ano, o bailarino se emocionou com os felinos abandonados na Zoonoses. Quando o número de bichos na casa de Júnior chegou a seis, ele procurou uma forma de resgatar os gatos sem ter de mantê-los consigo. Agora, vai mensalmente ao centro para recolher meia dúzia de filhotes, que recebem cuidados, vacinas e alimentação antes de partirem para um novo lar.

Júnior acredita que sua atitude já tenha salvo dezenas de gatos de um destino de abandono. “Levo para pet shops, passo para gente que conheço… Tem sempre muita gente querendo. As pessoas têm um certo preconceito com os animais da Zoonoses, pensam que estão doentes e ninguém quer. Quando veem os gatos numa loja, as pessoas já têm outra visão”, explica o jovem. Ainda assim, cada visita ao centro é um tormento. Ontem, o coração de Júnior saiu apertado da Zoonoses, onde diversos gatinhos e uma gata prenhe permaneceram atrás das grades. “Às vezes me dá um desespero. Se eu pudesse, pegava todos.” Ele já planeja voltar para levar os que ficaram.

A adoção de animais no canil é rápida e gratuita. Os donos somente precisam assinar um termo de compromisso e podem levar imediatamente o bicho para casa. Caroline Lamounier, 29 anos, nem mesmo precisou entrar no corredor para encontrar o cão que adotou ontem. Ainda na entrada do centro, a esteticista se apaixonou por uma cadela pequena que tremia assustada numa caixa de papelão, recém-chegada ao local. “Minha filha acordou hoje pedindo um cachorro e resolvi dar uma olhada. Achei que aqui só tivesse cachorro grande, de rua, não sabia que aqui tinha cachorros pequenos assim”, disse. O porte modesto da cadelinha será ideal para o apartamento de sua nova família, em Águas Claras.

Já o adolescente Leandro Henrique Lopes Ramos, 16 anos, foi à Zoonoses em busca de um cão grande para substituir o mascote morto há duas semanas. Quando soube da situação do Núcleo de Animais Domésticos, ele convenceu o pai a fazer uma visita. “Íamos comprar um akita, mas resolvemos vir ao canil. Acho legal adotar um cachorro, pois os que não são adotados passam o resto da vida aqui”, avalia o estudante. Depois de muito namoro com os cães do corredor da adoção, a família voltou ontem para casa com um simpático filhote preto. O pequeno Beethoven — assim batizado em homenagem ao antigo cão da família — logo aprovou o colo do novo dono e foi para a nova casa.

O perigo

A leishmaniose é uma doença não contagiosa causada pelo protozoário Leishmania, que se reproduz dentro das células do sistema imunológico. Pode provocar lesões na pele, no nariz, na boca e na garganta.

A transmissão se dá por meio do mosquito felobomíneo, que se alimenta de sangue. No Brasil, o governo recomenda a eutanásia dos animais infectados. Em outros países, porém, cães e gatos são tratados e ainda recebem a vacina contra a doença.


COMO AJUDAR

Qualquer um pode adotar um cão ou gato, gratuitamente, no centro de Zoonoses. O serviço de adoção de animais funciona de segunda a sexta-feira, das 11h às 17h, no Núcleo de Animais Domésticos, no Sain, Estrada Contorno do Bosque, Lote 4, Setor Militar Urbano. Informe-se sobre o processo de adoção pelo telefone da Zoonoses: 3341-1900.


http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2011/05/07/interna_cidadesdf,251220/zoonoses-o-lugar-certo-para-quem-procura-adotar-um-animalzinho.shtml

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