G1
Natureza
Da BBC
16/02/2014 10h25
- Atualizado em
16/02/2014 10h31
O parasita de gatos Toxoplasma gondii, que pode causar cegueira em seres
humanos, foi achado em uma baleia beluga na costa oeste do Ártico.
FOTO: AFP
Aquecimento global explicaria a transmissão, dizem cientistas
A descoberta foi feita por cientistas da Universidade de British
Columbia, no Canadá, que emitiram um alerta à comunidade local Inuit
para não comer a carne desse tipo de mamífero.
Segundo os pesquisadores, trata-se de uma evidência de como o
aquecimento global do Ártico vem possibilitando uma maior circulação de
patógenos.
No passado, o clima da região agia como uma espécie de 'obstáculo' aos agentes infecciosos.
"O gelo é uma barreira ecológica importante que influencia na forma
como os patógenos podem ser transmitidos na natureza", afirmou Michael
Grigg, parasitologista molecular que liderou a equipe responsável pela
descoberta. "O que nós temos descoberto com as mudanças ocorridas no Ártico é que
novos agentes patógenos vêm surgindo, causando doenças na região que
nunca haviam sido vistas anteriormente", acrescentou.
Grigg, que faz parte da Unidade de Pesquisas de Mamíferos Marinhos da
Universidade de British Columbia, fez as declarações durante o encontro
anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AASS, na sigla
em inglês).
O Toxoplasma gondii tem forte presença nas baixas latitudes e muitas
pessoas contraem o parasita sem desenvolver problemas de saúde.
No entanto, o organismo pode apresentar riscos para mulheres grávidas e indíviduos com sistema imunológico fraco.
Aquecimento global
Os cientistas ainda não sabem, no entanto, como os parasitas foram parar na baleia beluga.
Eles suspeitam que os gatos trazidos para o Ártico como animais domésticos poderiam estar infectados com o organismo.
Na hipótese sustentada pelos pesquisadores, as fezes desses felinos
teriam entrado em contato com a água dos rios que desembocam no oceano.
Com a elevação das temperaturas no Ártico, acreditam eles, a água
permanece em estado líquido por mais tempo, facilitando, assim, o
contato do parasita com outros animais.
"O estágio de transmissão do parasito é uma estrutura em forma de ovo", afirmou Grigg. "A única forma de eliminá-lo é fervê-lo ou congelá-lo. Por isso, quanto
mais tempo as temperaturas ficarem acima de zero grau Celsius, maior é o
risco de exposição ao parasita. Com o aquecimento global, esse risco
aumenta", acrescentou.
Em 2012, a equipe liderada por Grigg revelou que uma nova cepa de outro
parasita, o Sarcocystis, foi responsável pela morte de mais de 400
focas cinzas no Atlântico Norte. O patógeno havia sido observado
anteriormente apenas no Ártico.
Para Sue Moore, oceanógrafa da Administração Oceânica e Atmosférica
Nacional, órgão do governo americano para assuntos ligados à
meteorologia, oceanos, atmosfera e clima, o monitoramento dos mamíferos
marinhos é a melhor forma de observar as mudanças no Ártico. "Eles (mamíferos marinhos) são o que chamo de 'sentinelas da mudança''', afirmou. "Eles estão no topo da cadeia alimentar e dependem do ecossistema em
que vivem. Deles, podemos ter, assim, uma visão 'de cima para baixo' do
que está acontecendo", explicou ela. "Os mamíferos marinhos refletem as mudanças que estão ocorrendo no
ecossistema. Se um deles parar de comer determinado alimento e passar a
comer outro, então é porque algo de importante aconteceu".
http://g1.globo.com/natureza/noticia/2014/02/parasita-de-gato-e-achado-em-baleia-no-artico.html